A Ciência Aberta para a Implementação da Agenda 2030 da ONU

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Histórico: A primeira Conferência de Ciência Aberta foi organizada pela Biblioteca Dag Hammarskjöld da ONU em colaboração com a Scholarly Publishing and Academic Resources Coalition (SPARC) e realizada em 19 de novembro de 2019 na sede da ONU, em Nova York. O tema da conferência: “Rumo à ciência aberta global: facilitador essencial da agenda das Nações Unidas para 2030” (do original em inglês: Towards Global Open Science: Core Enabler of the UN 2030 Agenda) [1] teve o objetivo de incrementar a discussão sobre ciência e pesquisa abertas em âmbito mundial e o papel da mesma no avanço da Agenda 2030 para o desenvolvimento sustentável. Esta é uma tradução livre da matéria [2].

A conferência reuniu representantes de iniciativas de Ciência Aberta de todo o mundo (OpenAIRE, Hindawi, LA Referencia, SciELO, AfricanLII e outros), pesquisadores iniciantes, diretores de bibliotecas e formuladores de políticas.

Bastidores: Nessa ocasião, Thanos Giannakopoulos, chefe da Biblioteca Dag Hammarskjöld da ONU, convidou os palestrantes da Conferência para uma mesa redonda fechada que ocorreu na tarde de 18 de novembro de 2019. A discussão teve como tema “Rumo à Ciência Mundial” e foi moderada pelo professor Jean-Claude Guédon, visando ao compartilhamento das diferentes visões e perspectivas das regiões dos representantes, conexão de infraestruturas e processos, identificação de oportunidades de colaboração global, bem como discussão sobre o progresso atual no campo da Ciência Aberta e o papel central na implementação da Agenda 2030 da ONU.

A Europa foi representada por Jean Claude Burgelman, enviado de acesso aberto da Comunidade Europeia (política), Natalia Manola da OpenAIRE (infraestrutura) e Wolfram Horstmann da LIBER (comunidade).

Os Resultados: Os participantes chegaram a um consenso sobre as seguintes visões:

I Ciência Aberta (Open Science) é um acelerador dos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS).

II A ciência financiada publicamente deve ser Ciência Aberta.

III Ainda não estamos no caminho para alcançar os ODS. Assim, devemos trabalhar colaborativamente em direção aos objetivos da humanidade estabelecidos nos ODS.

IV A importância do Acesso Aberto (OA) é uma das principais conclusões do Relatório Global de Desenvolvimento Sustentável de 2019.

V A Ciência Aberta deve ser inclusiva. Pesquisa relevante e importante não é o mesmo que a pesquisa altamente citada e popular.

VI Os incentivos à pesquisa devem estar alinhados com a transparência a serviço dos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS) visando ao bem da humanidade.

VII A Ciência Aberta requer a abertura de barreiras do conjunto de processos inter-relacionados de pesquisa científica. As bibliotecas são agentes e curadores naturais de informações/dados no conjunto de processos da Ciência Aberta e seu papel é essencial.

Por que é Importante: Os participantes (o grupo) estabeleceram os princípios para um Roteiro para a Science Commons [3], que deve ser adotado posteriormente por todas as iniciativas ao redor do mundo.

1 Não pode haver uma Science Commons sem uma Ciência Aberta. Uma Science Commons pode ser vista como uma estrutura organizada em torno de princípios, valores universais e a arquitetura da pesquisa aberta.

Os princípios devem ser aplicados a todos os cientistas que recebem financiamento público para a pesquisa onde quer que estejam. Os resultados da pesquisa global com financiamento público devem estar:

– universalmente disponíveis (sem senha e não vendidos como um serviço assinado);

– o mais abertos quanto possível e fechados quando se fizer necessário;

– tão distribuídos quanto possível, tão centralizados quanto necessário;

– FAIR (localizáveis, acessíveis, interoperáveis e reutilizáveis);

A Ciência Aberta deve ser guiada por valores universais:

– inclusão e respeito pela diversidade;

– prática equitativa de reciprocidade e complementaridade;

– benefícios universalmente compartilhados; e

– oportunidades de educação científica e participação social.

Para alcançar uma Science Commons, devemos repensar as relações estruturais entre financiadores, academias e instituições. Os financiadores tendem a garantir um maior nível de liberdade em suas intervenções; eles têm os fundos, avaliam todos e eles mesmos não são classificados.

2 Uma Science Commons é o elo que interliga plataformas, políticas, tecnologias e infraestruturas sociais, todas as camadas críticas da Ciência Aberta, cada uma das quais necessária, mas nenhuma é suficiente sozinha. Todos têm um papel único a ser desempenhado no ecossistema da Ciência Aberta: o objetivo é romper as barreiras à pesquisa científica e otimizar seus processos.

3 Uma Science Commons deve adotar uma abordagem baseada em evidências para garantir o progresso na Ciência Aberta, em que avaliação, monitoramento e métricas atuam de modo distinto, mas desempenham diferentes papeis, exigindo dados/informações quantitativas e qualitativas.

4 Uma Science Commons pode começar com o fornecimento de Science para e sobre os ODS. No mínimo, essa Science Commons inclui a disponibilidade e acessibilidade global e aberta às: publicações científicas:

– os dados produzidos mundialmente pelo sistema de ciência pública e metadados relacionados;

– códigos utilizados para entender os dados e os fluxos de trabalho que descrevem etapas de pesquisa e transformações de dados; e

– softwares de pesquisa, algoritmos e ferramentas para reutilização.

5 Certos riscos para uma Science Commons devem ser identificados, como algumas formas de publicação de OA que se mostram contra os valores básicos da equidade e podem reforçar a injustiça cognitiva, o domínio epistêmico e as desigualdades sistêmicas (diferença de acesso, exposição a preferências específicas de idioma).

Outras perspectivas relevantes se formaram na discussão sobre uma Science Commons:

a. A ciência aberta completa está progredindo; diferentes comunidades regionais estão construindo plataformas o que equivale a criar uma organização natural da produção científica em toda a sua variedade
b. A ciência tende a redefinir bordas e bordas; um Science Commons atrapalha os limites entre “dentro” e “fora”; trata-se de criar vínculos bidirecionais e interações entre atores
c. A ONU deve apoiar a Open Science para alcançar os ODS e seus outros objetivos estratégicos
d. A “última milha” é um problema muito interessante para se concentrar: como devemos trazer a mais ampla comunidade de pesquisadores a bordo? Quais são as formas de incentivar o compartilhamento aberto de ciência e acelerar o progresso para alcançar os ODS?

Moderador:

Jean-Claude Guédon, Retired Professor, Université de Montréal, Canada

Participantes:

Dr. Alperin Juan Pablo, Assistant Professor, Publishing Program; Associate Director of Research, Public Knowledge Project, Simon Fraser University, Canada
 Ms. Badeva-Bright Mariya, Co-founder and Coordinator, African Legal Information Institute (AfricanLII)
 Ms. Bonini Astra, Senior Sustainable Development Officer, Policy and Analysis Branch (PAB), UN Department of Economic and Social Affairs
 Dr. Bourg Chris, Director of Libraries, Massachusetts Institute of Technology, United States of America
 Mr. Burgelman Jean-Claude, Open Access Envoy, European Commission
 Mr. Cabezas Alberto, Executive Secretary, LA Referencia
 Dr. Cetto Ana María, Founder and President, Latindex
 Mr. Giannakopoulos Thanos, Chief Librarian, UN Dag Hammarskjöld Library
 Dr. Hikihara Takashi, Professor, Kyoto University; Chairperson, Expert Panel on Promoting Open Science, Cabinet Office, Government of Japan
 Dr. Horstmann Wolfram, Special Advisor, Association of European Research Libraries (LIBER), Director, Göttingen State and University Library, Germany
 Ms. Joseph Heather, Executive Director, SPARC
 Ms. Kohrs Ramona, Librarian, UN Dag Hammarskjöld Library
 Dr. MacCallum Catriona, Director of Open Science, Hindawi Ltd
 Dr. McKiernan Erin, Assistant Professor, Biomedical Physics, Department of Physics, National Autonomous University of Mexico
 Ms. Manola Natalia , Managing Director, OpenAIRE
 Dr. Nichols Lisa, Assistant Director for Academic Engagement, Office of Science and Technology Policy, Executive Office of the President, United States of America
 Mr. Packer Abel, Co-Founder, SciELO; Programme Director, SciELO / FAPESP
 Mr. Shockey Nick, Director of Programs & Engagement, SPARC; Director, Right to Research Coalition
 Ms. Tise Ellen, Former President, International Federation of Library Associations & institutions (IFLA), Senior Director, Library and Information Services, Stellenbosch University, South Africa

== Referência ==

EUROPEAN UNION. Horizon 2020 Research. OpenAIRE. Open Science for the implementation of the UN 2030 Agenda. Disponível em: https://www.openaire.eu/open-science-for-un2030-agenda Acesso em: 10 Feb 2020.

== Notas ==

[1] Vídeos e Slides das Apresentações da Conferência:
– Vídeo  – Part 1: Towards Global Open Science, Core Enabler of the UN 2030 Agenda
-Vídeo – Part 2: Towards Global Open Science, Core Enabler of the UN 2030 Agenda
Slides das Apresentações: http://research.un.org/conferences/media

[2] Tradução: Edijanailde Costa Ribeiro (AGUIA). Revisão: Margareth Artur (AGUIA)

[3] Não encontramos uma tradução para a expressão Science Commons. Então, optamos por mantê-la no idioma original.

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Opening keynotes

Panel One: Policy Makers

Panel Two: Open Science and Library Infrastructures

Panel Three: Open Science Initiatives: Advancing Inclusive Globalization of Research and Scholarly Communications

Panel Four: OpenCon Early Career Panel: Openness, Equity, and the Sustainable Development Goals: Developing Systems for Research and Education that Serve the World

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