Ciência aberta e o novo modus operandi de comunicar pesquisa – Parte I

Considerando a importância de aprofundarmos os conhecimentos a respeito do conceito e os desafios da Ciência Aberta, reproduzimos aqui a matéria publicada recentemente no Blog SciELO em duas partes, de autoria de Abel L Packer e Solange Santos1

Imagem adaptada da original por Markus Spiske.

A Ciência Aberta pleiteia uma transformação considerável essencialmente enriquecedora do tradicional modus operandi de fomentar, projetar, realizar e, particularmente, comunicar pesquisa. O objetivo é privilegiar a natureza colaborativa da pesquisa e democratizar o acesso e uso do conhecimento científico. Ela abarca um conjunto de práticas, entre as quais, destacamos:

  • disponibilização em acesso aberto dos dados, métodos de análise e códigos de programas e outros materiais utilizados na pesquisa, assim como dos resultados obtidos para viabilizar a preservação, reprodutibilidade e reusabilidade dos dados;
  • rapidez na comunicação dos artigos como fator chave no avanço do conhecimento científico, mediante a adoção da modalidade preprint, que é uma versão completa do artigo científico depositada pelos autores em um servidor público de preprints, antes do envio a um periódico para avaliação da publicação. Os preprints se posicionam assim, como início formal do fluxo de publicação dos artigos e dotam os autores de maior controle da comunicação;
  • transparência e abertura progressiva nos processos de avaliação de manuscritos por pares envolvendo relações e interações entre autores, editores e pareceristas.

Embora conceitos de Ciência Aberta sempre estiveram presentes na evolução da ciência, o movimento atual é produto da web e, mais precisamente, da sua capacidade de promover a desintermediação nos processos de acesso e comunicação de informação e a interoperabilidade entre conteúdos.

A natureza da Ciência e aberta

As fundamentações, análises e visões críticas do conceito e dos movimentos em prol da Ciência Aberta apontam como eixo comum o aperfeiçoamento do funcionamento da ciência segundo várias dimensões, prioridades ou escolas de pensamento. Em particular, o enriquecimento do modus operandi de comunicar pesquisas tem como foco principal o aperfeiçoamento da aplicação do método científico em prol da geração confiável de novos conhecimentos, que se traduz na condução de pesquisas informadas e reprodutíveis, obedientes a padrões éticos e que favoreçam o retorno dos investimentos recebidos. Este retorno é uma reivindicação das agências financiadoras de pesquisa que desejam fomentar a abertura dos métodos e dados das pesquisas para uso de outras investigações, processos e objetos educacionais, inovações tecnológicas, aplicações profissionais, educação continuada e outros usos. Ou seja, o amplo acesso às fontes de conhecimento envolvidas e produzidas pelas pesquisas tem o intuito de maximizar a razão de ser da ciência enquanto empreendimento cooperativo cultural e social.

Figura 1. Um guarda-chuva abarcando as práticas independentes tornou-se a mais popular entre as imagens de representação do conceito de Ciência Aberta. Fonte: FIOCRUZ, 2019, O que é Ciência Aberta?, disponível em: https://bit.ly/2G8OwXc

Assim, por um lado, a Ciência Aberta fortalece as redes de colaboração entre pesquisadores em prol do avanço do conhecimento no universo das disciplinas e da ciência em geral. Por outro lado, promove a função social da ciência no aporte de entendimentos e soluções às grandes questões que afetam o presente e futuro da humanidade, que estão cuidadosamente sistematizadas na declaração dos 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), lançada em 2015 e aprovada por 193 países, sob a liderança das Nações Unidas, e conhecida como Agenda 2030 (veja a Figura 2).

Figura 2. Agenda 2030 – 17 Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS) das Nações Unidas. Fonte: ALEXOVICH, A. e SAMAAN, M., disponível em: https://bit.ly/2tq3HV1

Em muitos sentidos, os ODS e a Ciência Aberta são políticas contemporâneas e globais que convergem na busca de melhores condições de vida e proteção do meio ambiente. Essa convergência constitui fator chave na governança global e na interação com suas múltiplas contextualizações regionais, nacionais, locais e temáticas, com destaque para a capacidade de influenciar políticas públicas com as melhores evidências científicas disponíveis, empoderar a sociedade democrática e solidária, inclusive para a identificação e rejeição das fake news e seus efeitos destrutivos, assim como para rejeitar movimentos que negam a ciência, alguns especialmente perniciosos como a refutação dos efeitos das mudanças climáticas, eficiência das vacinas, além de tolices como o terraplanismo.

A difusão e discussão sobre os significados da Ciência Aberta, os desafios que a sua adoção impõe e, principalmente, as vantagens e ganhos que propicia têm crescido no cenário científico internacional e nacional. Tudo indica que o ritmo de adoção das suas práticas será agilizado no futuro próximo. Este fato foi registrado em levantamento recente sobre a implantação da Ciência Aberta na União Europeia e em oito outros países, elaborado pela Fiocruz e publicado como livro verde2. Ha também um crescente número de fontes de informação que advogam a adoção da Ciência Aberta, disponíveis na web, como cursos de capacitação, websites, fóruns, etc. orientados a pesquisadores e outros atores.

O governo brasileiro, no contexto da parceria internacional que ajudou a criar, em 2011, a Parceria do Governo Aberto (Open Government Partnership, OGP), e de seu calendário de implantação, lançou em 2018, o 4° Plano de Ação Nacional em Governo Aberto, composto de onze compromissos. O terceiro trata da Inovação e Governo Aberto na Ciência, mais especificamente com o “estabelecimento de mecanismos para a governança de dados científicos”, compromisso que, vale lembrar, é associado ao ODS 9.5 de avanço da pesquisa e de capacidades tecnológicas. Tal compromisso é estruturado em nove marcos de execução, sob a coordenação da Embrapa, e conta com a participação de organismos federais de Ciência e tecnologia (Capes, CNEN, CNPq, Embrapa, Fiocruz e IBICT) e de atores da sociedade civil, com destaque para a Associação Brasileira de Editores Científicos (ABEC) e o Programa SciELO/FAPESP no campo da comunicação científica (Figura 3).

Figura 3. Parceria para Governo Aberto: o 4º Plano de Ação Brasileiro tem como terceiro compromisso a inovação e Governo Aberto na Ciência, com nove marcos de execução.

Marcos de execução: 1. Implantação de uma rede interinstitucional pela Ciência Aberta 2. Realização de diagnóstico nacional e internacional da Ciência Aberta 3. Definição de diretrizes e princípios para políticas institucionais de apoio à Ciência Aberta 4. Promoção de ações de sensibilização, participação e capacitação em Ciência Aberta 5. Articulação com agências de fomento para a implantação de ações de apoio à Ciência Aberta 6. Articulação com editores científicos para a implantação de ações em apoio à Ciência Aberta 7. Implantação de infraestrutura federada piloto de repositórios de dados de pesquisa 8. Proposição de padrões de interoperabilidade para repositórios de dados de pesquisa 9.Proposição de conjunto de indicadores para aferição da maturidade em Ciência Aberta

Na reunião da Rede SciELO, ocorrida durante as comemorações dos 20 anos do SciELO, em setembro de 2018, foram aprovadas as linhas de ação3 para os próximos cinco anos e que contemplam a adoção progressiva das práticas de comunicação da Ciência Aberta.

A pesquisa compartilhada

O aspecto central da almejada qualificação de “aberta” para a ciência é o da capacidade de comunicação permeando todos os processos e conteúdos do ciclo da pesquisa, o que, vale repetir, resgata e promove a natureza colaborativa do empreendimento científico na criação de novos conhecimentos. Esta abertura ampla e informada caracteriza o conhecimento científico como bem público global e inclusivo, geográfica, temática e socialmente. A abertura implica em que a formulação e a execução dos projetos de pesquisa contemplem a gestão do registro cuidadoso e padronizado dos processos, métodos, materiais e dados com vistas à sua disponibilização pública e legível, tanto para humanos como para computadores. Este registro é a garantia da integridade da comunicação dos resultados. Há casos mais avançados em que o processo propriamente dito é aberto, como nos cadernos abertos de laboratório.

Conceitualmente, fazer com que a comunicação permeie todo o ciclo da pesquisa é tão ou mais importante que o tradicional e isolado ato final da redação e comunicação dos resultados por meio de um ou mais artigos publicados em periódicos. Além de assegurar a consistência de toda a pesquisa, permitir o reuso e facilitar avaliações, a disponibilização dos dados das pesquisas – em servidores públicos confiáveis – assegura sua preservação e evita a tendência de perda progressiva dos dados com o passar dos anos, quando mantidos sob a guarda dos pesquisadores ou de ambientes não sustentáveis.

A capacidade de comunicação em todo o ciclo da pesquisa se traduz em transparência e exposição da execução da pesquisa a controles de qualidade automatizados, de pares e do público no que diz respeito ao rigor metodológico e a padrões éticos. Tudo isso contribui para minimizar erros e más condutas, tais como plágio, conflitos de interesse, dados falsificados, comprometimento da avaliação por pares e falsas atribuições de autorias.

A gestão e compartilhamento de dados da pesquisa

A prática de dados abertos e formalizada pela gestão de dados como parte integral dos projetos, ou seja, do início ao final do ciclo da pesquisa. Inicia-se com um plano de gestão de dados que integra a proposta do projeto de acordo com instruções da agência de financiamento ou da instituição. Um exemplo e o serviço do website <https://dmptool.org/>, do Centro de Curadoria da Universidade da Califórnia (University of California Curation Center, UC3) da Biblioteca Digital da Califórnia (California Digital Library) que guia o pesquisador na preparação de planos de gestão de dados segundo diferentes modelos.

A gestão de dados é uma função estruturante da execução qualificada da investigação dos objetivos da pesquisa, dos métodos adotados, dos achados e da sua capacidade de comunicação. Inclui os processos de criação ou coleta, controle de qualidade, estruturação, armazenamento e disponibilização dos dados utilizados na pesquisa, sejam eles gerados pelo próprio projeto ou reusados de outras fontes. Os guias, metodologias, ferramentas e serviços de gestão de dados pressupõem quase sempre o uso de suporte digital.

O objetivo é planejar, viabilizar e facilitar, por um lado, o entendimento e avaliação da correta execução da pesquisa, validação dos resultados e sua reprodutibilidade, e, por outro lado, o compartilhamento dos dados visando seu reuso. Aqui o conceito de dados pode abranger também as ferramentas metodológicas e códigos de programas.

Desde a sua publicação no Scientific Data, em 2016 os “Princípios FAIR para gestão e administração de dados científicos”4 (FAIR Guiding Principles for scientific data management and stewardship) se fundiram progressivamente como um guia consensual de referência para a organização e disponibilização eficientes dos dados de pesquisas e também das funcionalidades dos servidores. Por FAIR entenda-se: Findable – Encontrável, Accessible – Acessível, Interoperable – Interoperável, Reusable – Reusável. A iniciativa Global Open FAIR (GO FAIR) compreende redes de implementação dos princípios FAIR com a perspectiva do desenvolvimento da Internet de Dados e Serviços FAIR (Internet of FAIR Data & Services, IFDS). O Brasil iniciou sua participação com a GO FAIR Brasil Saúde, com a rede de implantação dos princípios FAIR nas ciências da saúde, sob a liderança da Fiocruz.

Na gestão FAIR dos dados, os pesquisadores depositam, em um servidor, um conjunto de dados estruturados por três componentes seguindo a arquitetura de objetos digitais: um identificador persistente como o DOI (Digital Object Identifier), os dados e os metadados. Os metadados são, em geral dependentes da área temática e descrevem os dados com identificação padronizada de autoria, título, descrição, palavras-chaves, elementos de dados, localização, etc., tornando-os fontes citáveis. Sempre que apropriado, os autores devem escrever um artigo de dados (data articles), fornecendo o detalhamento dos dados, sua proveniência, curadoria e possibilidades de análises e limitações de uso, que é outra fonte passível de citação. Por último, preparam um ou mais artigos textuais de pesquisa com as análises dos dados, descrição e discussão de resultados. Assim, com dados abertos, os autores podem ampliar os canais de comunicação das pesquisas com pelo menos três fontes citáveis: os dados, os artigos dos dados e os artigos narrativos. Os dados em geral são abertos após a publicação dos artigos. Em casos justificados de preservação de privacidade e necessidade de sigilo temporário ou definitivo os dados não são abertos. No contexto da Ciência Aberta, aos comitês de ética caberá também a orientação sobre quais tipos de dados devem ou não ser abertos.

Como a gestão de dados de pesquisa é altamente dependente das disciplinas e áreas temáticas, as sociedades científicas e associações de programas de pós-graduação são chamadas a desenvolver programas de disseminação, treinamento e guias de orientação das práticas de gestão de dados para suas respectivas comunidades de pesquisa.

Internacionalmente, os periódicos estão adotando em suas políticas editoriais e critérios de avaliação de manuscritos controles sobre os dados de pesquisa, assim como códigos de programas e outros materiais que justificam as afirmações e resultados obtidos. Um aspecto chave do controle são as normas de citação que, de modo geral, seguem a mesma estrutura de citação de literatura científica. A Data Cite é uma organização de referência para as questões metodológicas de citações de dados. Ela opera também o catálogo R3Data de repositórios de dados de pesquisa e que serve de fonte para os periódicos definirem os repositórios que são aceitáveis. Os periódicos contam também com as Diretrizes TOP (Transparency and Openness Promotion) do Center for Open Science (COS) que servem de guia para definir um caminho de adoção gradual da gestão de dados estruturados em oito critérios distintos e três níveis de implantação. No Brasil, o SciELO adotou as Diretrizes TOP nas linhas de ação de alinhamento com a Ciência Aberta. Para o conjunto dos periódicos do Brasil, a liderança da ABEC em prol da atualização das políticas editoriais será decisiva. Os pesquisadores que seguem as normas de gestão de dados têm condições de atender às demandas dos periódicos sem problemas.

As agências de financiamento passam a exigir, nos critérios de avaliação de pedidos de auxílios, o plano de gestão de dados como parte do projeto de pesquisa. A FAPESP iniciou esta exigência em novembro de 2018, inicialmente para os Projetos Temáticos. Atualmente também está promovendo uma rede de gerenciamento de dados envolvendo as sete universidades públicas do estado. Da mesma forma, a gestão de dados de pesquisa incluindo o uso de repositórios passa a fazer parte das políticas de pesquisa das universidades e instituições de pesquisa.

Notas

1. Esse post foi originalmente publicado no Boletim Informativo da Sociedade Brasileira de Ciência do Solo e dividido em duas partes para publicação no blog SciELO em PerspectivaVeja a Parte II aqui.

2. SANTOS, P.X., et al. Livro Verde – Ciência Aberta e dados abertos: mapeamento e análise de políticas, infraestruturas e estratégias em perspectiva nacional e internacional. Rio de Janeiro: Fiocruz, 2017 [viewed 1 August 2019]. Available from: https://www.arca.fiocruz.br/handle/icict/24117

3. SciELO – Linhas prioritárias de ação 2019-2023 [online]. SciELO 20 Anos. 2018 [viewed 1 August 2019]. Available from: https://www.scielo20.org/redescielo/wp-content/uploads/sites/2/2018/09/Líneas-prioritaris-de-acción-2019-2023_pt.pdf

4. WILKINSON, M. D., et al. The FAIR guiding principles for scientific data management and stewardship. Scientific Data [online]. 2016, vol. 1, no. 3 [viewed 1 August 2019]. DOI: 10.1038/sdata.2016.18. Available from: https://www.nature.com/articles/sdata201618

Referências

ALBAGLI, S., MACIEL, M.L. and ABDO, A.H. (org.). Ciência Aberta, questões abertas. Brasília: Ibict; Rio de Janeiro: Unirio, 2015 [viewed 1 August 2019]. Available from: https://bit.ly/2o2b6c4

BENEDIKT, F. and SASCHA, F. Open Science: One Term, Five Schools of Thought. In: BENEDIKT, F. and SASCHA, F. (eds) Opening Science. Cham: Springer, 2014 [viewed 1 August 2019]. DOI: https://doi.org/10.1007/978-3-319-00026-8_2

MONS, B. Data Stewardship for Open Science: Implementing FAIR Principles. Boca Raton: CRC Press, 2018. Available from: https://bit.ly/2uVb47z

PACKER, A.L. and SANTOS, S. Ciência Aberta e o novo modus operandi de comunicar pesquisa. Boletim Informativo da Sociedade Brasileira de Ciência do Solo. 2019, vol. 45, no. 1, pp. 17-24 [viewed 1 August 2019]. Available from: https://www.sbcs.org.br/wp-content/uploads/2019/06/Boletim-SBCS-Volume-45-N%C3%BAmero-1.pdf

SANTOS, P.X., et al. Livro Verde – Ciência Aberta e dados abertos: mapeamento e análise de políticas, infraestruturas e estratégias em perspectiva nacional e internacional. Rio de Janeiro: Fiocruz, 2017 [viewed 1 August 2019]. Available from: https://www.arca.fiocruz.br/handle/icict/24117

SciELO – Linhas prioritárias de ação 2019-2023 [online]. SciELO 20 Anos. 2018 [viewed 1 August 2019]. Available from: https://www.scielo20.org/redescielo/wp-content/uploads/sites/2/2018/09/Líneas-prioritaris-de-acción-2019-2023_pt.pdf

WILKINSON, M. D., et al. The FAIR guiding principles for scientific data management and stewardship. Scientific Data [online]. 2016, vol. 1, no. 3 [viewed 1 August 2019]. DOI: 10.1038/sdata.2016.18. Available from: https://www.nature.com/articles/sdata201618

Links externos

O que é Ciência Aberta? – Formação Modular em Ciência Aberta <https://campusvirtual.fiocruz.br/gestordecursos/mod_hotsite/ciencia-aberta>

Open Science MOOC <https://opensciencemooc.eu/about/>

Research Data Alliance <https://rd-alliance.org/>

The FOSTER Portal <https://www.fosteropenscience.eu/>

Como citar este post [ISO 690/2010]:

PACKER, A.L. and SANTOS, S. Ciência aberta e o novo modus operandi de comunicar pesquisa – Parte I [online]. SciELO em Perspectiva, 2019 [viewed 14 September 2019]. Available from: https://blog.scielo.org/blog/2019/08/01/ciencia-aberta-e-o-novo-modus-operandi-de-comunicar-pesquisa-parte-i/

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Confira a continuação da matéria Ciência aberta e o novo modus operandi de comunicar pesquisa – Parte II.

Publicado em Ciência Aberta, Dados abertos, Notícias, Política informacional, Referências

Ciência aberta e o novo modus operandi de comunicar pesquisa – Parte II

Considerando a importância de aprofundarmos os conhecimentos a respeito do conceito e os desafios da Ciência Aberta, reproduzimos aqui a matéria publicada recentemente no Blog SciELO em duas partes, de autoria de Abel L Packer e Solange Santos1

Acesso aberto aos artigos

Imagem adaptada da original por Markus Spiske.

Uma das práticas da Ciência Aberta que nos é familiar é o Acesso Aberto aos textos dos artigos disponibilizados publicamente na web, seja pelos periódicos na modalidade conhecida como Acesso Aberto Dourado ou pelos próprios autores em seus websites, em repositórios institucionais ou temáticos, logo após a publicação do artigo ou após um período de seis ou doze meses de embargo imposto pelo periódico, modalidade que e conhecida como Acesso Aberto Verde. O principal modelo de autofinanciamento ou comercialização utilizados pelos periódicos de acesso aberto dourado e a cobrança dos autores de uma taxa de publicação, popularizada internacionalmente como Article Processing Charge (APC). A maioria dos periódicos de acesso por assinatura publicam também parte dos artigos em acesso aberto com a cobrança de APC, modalidade denominada híbrida. Os valores mais frequentes da APC variam de US$1500 a US$5000.

Adotado pioneiramente há mais de 20 anos no Brasil pelo SciELO e em anos seguintes por 13 outros países (Figura 1) e consolidado globalmente como uma modalidade de comunicação científica, o Acesso Aberto sinaliza a viabilidade das demais práticas da Ciência Aberta, porém não sem desafios. Sua adoção generalizada enfrenta ainda forte resistência das editoras comerciais que buscam um modelo de negócios com retorno financeiro igual ou maior do que obtêm com o acesso restrito por assinaturas.

Figura 1. Rede SciELO – evolução do número de periódicos indexados e ativos por 14 coleçõesnacionais certificadas, entre 1997 e 2018. Fonte:  SciELO/PACKER, A.L., Agosto/2018

Entretanto, os desafios que enfrenta a universalização do Acesso Aberto envolvem todo o sistema científico. A validação dos artigos que descrevem as pesquisas e realizada pelos periódicos com a colaboração de pesquisadores (pares) especialistas. Entretanto, esta qualificação da avaliação nas diferentes áreas e associada ao prestígio ou impacto dos periódicos, quase sempre medido por indicadores bibliométricos anuais das citações por artigo. Assim, não obstante as críticas generalizadas, os periódicos e seu ranqueamento operam como proxy da qualidade das pesquisas que publicam, e o seu prestígio ou impacto e estendido aos pesquisadores-autores, seus programas de pós-graduação, departamentos, universidades, países, regiões do mundo. Como a maioria dos periódicos melhor ranqueados pelos indicadores bibliométricos são comercializados pelas editoras, estas gozam de muito poder junto as comunidades de pesquisa para resistir ao avanço do acesso aberto e, portanto, da Ciência Aberta.

Rapidez e transparência na comunicação das pesquisas – rumo aos preprints

Incorporado como bandeira do movimento da Ciência Aberta, é crescente o questionamento dos periódicos pela demora e falta de transparência no processo de avaliação de manuscritos, muitas vezes referido como “caixa preta” e sem salvaguardas explícitas de vieses a favor ou contra dos autores por atitudes e decisões influenciadas por sua origem geográfica, nacionalidade, etnia, gênero, idade, escolas de pensamento, etc. O caminho principal é a abertura que inclui a publicação continua, a adoção de preprints e a avaliação aberta de pares como estágio mais avançado.

Na publicação on-line clássica, muitos periódicos minimizam o tempo de processamento publicando os manuscritos logo após a aprovação em versão provisória, sem nenhuma edição, ou utilizam a chamada publicação continua de artigos individuais, logo após aprovados e editados, com um número de identificação que substitui a paginação. A publicação continua existe há cerca de 20 anos, mas se popularizou com os mega journals que operam como plataforma de artigos, como nos casos da PLOS ONE e Scientific Reports. O SciELO recomenda fortemente que todos os periódicos adotem a publicação contínua.

Entretanto, a demora na publicação de artigos de resultados de pesquisas é resolvida completamente ao iniciar-se o fluxo de comunicação com os manuscritos disponibilizados como preprints, em acesso aberto, antes ou em paralelo à submissão a periódicos. Além de acelerar a comunicação dos resultados da pesquisa, os preprints, enquanto documentos formais com DOI (Digital Object Identifier) e preservados, asseguram aos autores precedência de descobrimentos, novas ideias e processos e ainda permitem o melhoramento dos manuscritos, antes ou durante o processo de avaliação por um periódico ao permitir a geração de sucessivas versões aprimoradas a partir de comentários e sugestões recebidas no servidor de preprints. São também passíveis de citação e de registro no currículo dos pesquisadores para informar solicitações e relatórios de auxílios. Uma vez aceito por um periódico, o preprint é atualizado com uma observação de que foi aprovado e um link para o artigo publicado. É crescente também a exposição de artigos já publicados a comentários públicos, facilidade que se caracteriza como avaliação pós-publicação.

O SciELO e o Public Knowledge Project (PKP), responsável pelo Open Journal Systems (OJS) estabeleceram, em 2018, uma pareceria para o desenvolvimento de um sistema com vistas a implantação de um servidor de preprints. O objetivo é que atenda a todas as áreas temáticas, na perspectiva de fortalecer o fluxo de alimentação dos periódicos que indexa com manuscritos de melhor qualidade, sem atrasos na comunicação das pesquisas. Internacionalmente, existem vários servidores de preprints já consolidados como o arXiv, criado em 1991 e que atualmente cobre áreas de física, matemática, ciências da computação e seis outras áreas; o bioRxiv e o PeerJ, criados em 2013 para as áreas de ciências biológicas; o SSRN, criado em 1994 para Ciências Sociais, Humanidades e outras disciplinas e a OSF Preprints, que opera uma coleção de mais de 20 servidores de preprints, etc.

Quanto à transparência da avaliação por pares, um número ainda pequeno, porém crescente de periódicos oferece opções de abertura progressiva aos editores, autores e pareceristas. O SciELO recomenda as seguintes opções de avanço gradual de transparência e abertura: inclusão no texto do artigo publicado do nome do editor responsável pela avaliação e aprovação; publicação de pareceres de artigos aprovados como texto de comunicação científica com DOI; e, abertura das identidades dos autores e pareceristas durante o processo de avaliação. Entretanto, os periódicos do Brasil ainda veem com muita reserva a adoção da abertura plena da avaliação de manuscritos como é feita pela plataforma de publicação F1000 Research.

Linhas de Ação para os próximos anos

Todos os atores e instâncias da pesquisa são chamados a posicionar-se política e operacionalmente frente aos desafios e, especialmente, as vantagens e ganhos que a adoção da Ciência Aberta significara para os respectivos entornos, assim como suas interdependências, nas quais a participação e cooperação internacional têm um papel decisivo. A renúncia a posicionar-se frente as complexidades e ficar no aguardo do que está por vir pode ser cômodo inicialmente, mas pode também reduzir ganhos, afastar-se do estado da arte e atrasar-se na curva de aprendizagem das práticas de Ciência Aberta.

As áreas temáticas mais internacionalizadas estão condicionadas ao ritmo de adoção da Ciência Aberta, ditadas pelos organismos de ciência e tecnologia, sociedades científicas e editoras comerciais dos países desenvolvidos. As menos internacionalizadas deverão ditar seu próprio ritmo, o que abre um campo de ajustes e inovações das estruturas de pesquisa. Entretanto, para ambos os contextos, o posicionamento proativo das autoridades, de políticas públicas e institucionais de pesquisa é essencial para avançar na aprendizagem e defender pautas de interesse nacional.

Os pesquisadores, enquanto responsáveis pela formulação e execução de projetos de pesquisa, são, ao mesmo tempo, os atores mais importantes e os que mais dependem de outros atores e instâncias no processo de adoção da Ciência Aberta, com destaque para a liderança dos periódicos, que, em número crescente, conduzem os pesquisadores a cumprir exigências de práticas da Ciência Aberta em suas políticas e procedimentos editoriais. A proatividade dos pesquisadores dependerá também das políticas de financiamento e dos sistemas de avaliação da pesquisa, na eventualidade de passarem a exigir ou premiar a obediência as práticas da Ciência Aberta.

Os sistemas de bibliotecas das universidades e institutos vêm desempenhando um papel de liderança na adoção das práticas de Ciência Aberta, especialmente na sua disseminação na operação de repositórios de dados de pesquisa.

No curso de adoção da Ciência Aberta, vale lembrar, em primeiro lugar, que a apropriação das inovações que ela traz, conforma um processo complexo política, social, financeira e operacionalmente, que demandará meses de aprendizagem e anos de experiências, com ajustes sucessivos até que se torne o modus operandi predominante da pesquisa. Depois, vale lembrar que se trata de um empreendimento global que abarcará progressivamente todos os países, disciplinas e áreas temáticas, mas cujo desenvolvimento embutira um sem-número de contextualizações. Nesse sentido, o desafio maior para as autoridades e as comunidades de pesquisa do Brasil e definir e implantar linhas de ação para situar-se oportunamente no avanço nacional e global da Ciência Aberta, com foco no fortalecimento e ampliação de capacidades e infraestruturas adequadas as condições e prioridades de cada entorno.

Entre as primeiras linhas de ação, destaca-se, por um lado, a promoção nas diferentes comunidades do mais amplo entendimento do que é a Ciência Aberta em toda a sua extensão, como afetará a todos e a cada um e, principalmente, como enriquecera a capacidade científica e as prioridades de cada contexto. Por outro, a promoção de diálogos para a formulação de posicionamentos públicos das comunidades de pesquisa sobre o alinhamento com as práticas da Ciência Aberta. O entendimento e a construção progressiva de consensos a favor das boas práticas da Ciência Aberta nos diferentes contextos são condição e meios para a superação das resistências e posicionamento proativo.

Arte usada durante a Conferência SciELO 20 Anos

Nota

1. Esse post foi originalmente publicado no Boletim Informativo da Sociedade Brasileira de Ciência do Solo e dividido em duas partes para publicação no blog SciELO em PerspectivaVeja a Parte I aqui.

Referências

ALBAGLI, S., MACIEL, M.L. and ABDO, A.H. (org.). Ciência Aberta, questões abertas. Brasília: Ibict; Rio de Janeiro: Unirio, 2015 [viewed 1 August 2019]. Available from: https://bit.ly/2o2b6c4

BENEDIKT, F. and SASCHA, F. Open Science: One Term, Five Schools of Thought. In: BENEDIKT, F. and SASCHA, F. (eds) Opening Science. Cham: Springer, 2014 [viewed 1 August 2019]. DOI: https://doi.org/10.1007/978-3-319-00026-8_2

MONS, B. Data Stewardship for Open Science: Implementing FAIR Principles. Boca Raton: CRC Press, 2018. Available from: https://bit.ly/2uVb47z

PACKER, A.L. and SANTOS, S. Ciência Aberta e o novo modus operandi de comunicar pesquisa. Boletim Informativo da Sociedade Brasileira de Ciência do Solo. 2019, vol. 45, no. 1, pp. 17-24 [viewed 1 August 2019]. Available from: https://www.sbcs.org.br/wp-content/uploads/2019/06/Boletim-SBCS-Volume-45-N%C3%BAmero-1.pdf

SANTOS, P.X., et al. Livro Verde – Ciência Aberta e dados abertos: mapeamento e análise de políticas, infraestruturas e estratégias em perspectiva nacional e internacional. Rio de Janeiro: Fiocruz, 2017 [viewed 1 August 2019]. Available from: https://www.arca.fiocruz.br/handle/icict/24117

SciELO – Linhas prioritárias de ação 2019-2023 [online]. SciELO 20 Anos. 2018 [viewed 1 August 2019]. Available from: https://www.scielo20.org/redescielo/wp-content/uploads/sites/2/2018/09/Líneas-prioritaris-de-acción-2019-2023_pt.pdf

WILKINSON, M. D., et al. The FAIR guiding principles for scientific data management and stewardship. Scientific Data [online]. 2016, vol. 1, no. 3 [viewed 1 August 2019]. DOI: 10.1038/sdata.2016.18. Available from: https://www.nature.com/articles/sdata201618

Links externos

O que é Ciência Aberta? – Formação Modular em Ciência Aberta <https://campusvirtual.fiocruz.br/gestordecursos/mod_hotsite/ciencia-aberta>

Open Science MOOC <https://opensciencemooc.eu/about/>

Research Data Alliance <https://rd-alliance.org/>

The FOSTER Portal <https://www.fosteropenscience.eu/>

Como citar este post [ISO 690/2010]:

PACKER, A.L. and SANTOS, S. Ciência aberta e o novo modus operandi de comunicar pesquisa – Parte II [online]. SciELO em Perspectiva, 2019 [viewed 14 September 2019]. Available from: https://blog.scielo.org/blog/2019/08/01/ciencia-aberta-e-o-novo-modus-operandi-de-comunicar-pesquisa-parte-ii/

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Publicado em Notícias

Tópicos sobre dados abertos para editores científicos

O presente livro resulta dos esforços empreendidos pela Associação Brasileira de Editores Científicos (Abec Brasil) e parceiros engajados no Compromisso 3 do 4º Plano de Ação Nacional em Governo Aberto, na intenção de melhor compreender a dinâmica da Ciência Aberta e suas implicações sobre o cenário editorial científico nacional.

Entre os temas desenvolvidos nesta publicação, estão:

data papers e as novas possibilidades de editoração científica;

gestão e abertura de dados em uma variedade de contextos;

o papel dos repositórios de dados;

web de dados, web semântica e linked data na Ciência Aberta;

propriedade intelectual e direito autoral para dados de pesquisa;

a interface entre dados abertos e o processo de indexação;

princípios FAIR na Ciência Aberta;

políticas editoriais e de Ciência Aberta; entre outros tópicos atuais e de interesse da comunidade editorial científica.

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Fonte: https://labcotec.ibict.br/omp/index.php/edcotec/catalog/book/114

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11/08 – 14h | Webinar “Destacando a necessidade de proteger o modelo de acesso aberto diamante na América Latina”

No dia 11 de agosto de 2025, às 14h (horário de Brasília), acontecerá o segundo webinar da série: 

“Highlighting the Need to Protect the Diamond Open Access Model in Latin America/ Destacando a Necessidade de Proteger o Modelo de Acesso Aberto Diamante na América Latina”

Promovido pela BOAI (Budapest Open Access Initiative) em parceria com o Conselho Nacional de Reitores da Costa Rica (CONARE).

O debate será moderado por Bianca Amaro, representante do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação do Brasil, e contará com tradução simultânea em português, espanhol e inglês, promovendo o diálogo entre diferentes comunidades científicas da região.

Inscreva-se

Sobre o Webinar

A iniciativa tem como objetivo chamar atenção para a crescente preocupação com a adoção, por parte de periódicos diamantes, do modelo de cobrança por publicação, conhecido como APC (Article Processing Charge).

Neste segundo encontro, o foco estará voltado para a realidade do Brasil, país que abriga uma das maiores redes de periódicos de acesso aberto do mundo, sustentada majoritariamente por instituições públicas e sem fins lucrativos.

👥 O evento contará com a participação de:
Arianna Becerril García, Phillipe de Freitas Campos, Andrea Mora Campos, Edna Montero, Peter Suber e Andréa Vieira.

Detalhes do evento

  • Data: 11 de agosto de 2025 (segunda-feira)
  • Horário: 14h às 15h30 (BRT)
  • Modalidade: Online
  • Valor: Gratuito
  • Transmissão: Com tradução simultânea em Português 

Fonte: IBICT. Webinar – Destacando a necessidade de proteger o modelo de acesso aberto diamante na América Latina. Disponível em: https://manuelzao.ibict.br/webinar-destacando-a-necessidade-de-proteger-o-modelo-de-acesso-aberto-diamante-na-america-latina/ Acesso em 06 agosto 2025.

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Plataforma Cívis: Ciência Cidadã compartilhada

A Ciência Cidadã é uma das vertentes do movimento pela ciência aberta. Tem como foco promover a contribuição e o engajamento de não cientistas nas atividades de produção e análise de conhecimentos, dados e informações relevantes à ciência e às questões de importância social, ambiental e territorial.

A Cívis é uma plataforma de Ciência Cidadã, desenvolvida pelo IBICT em código aberto a partir da EU-Citizen.Science. O objetivo é oferecer infraestrutura e conteúdos que contribuam para ampliar o entendimento sobre Ciência Cidadã, disseminar seu uso e dar suporte ao desenvolvimento de iniciativas e à aplicação de metodologias nesse campo, com foco na América Latina e no Caribe.

Link: https://civis.ibict.br/pt-br/

A Cívis está aberta para que qualquer pessoa possa cadastrar iniciativas, recursos e outros conteúdos de ciência cidadã.

A plataforma dirige-se a um público amplo e plural, incluindo:

  • pesquisadores, cientistas e professores interessados em desenvolver projetos e iniciativas de ciência cidadã, bem como em conhecer e utilizar metodologias e resultados de iniciativas já existentes;
  • indivíduos, coletivos e organizações, com ou sem formação acadêmica, desejosos de participar, iniciar ou aprimorar ações com essa abordagem;
  • gestores públicos e privados interessados em apoiar e desenvolver projetos e iniciativas dessa natureza.
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2º Congreso Iberoamericano de Ciencia Abierta: submissão de trabalhos até 15 de agosto

O 2º Congreso Iberoamericano de Ciencia Abierta está com chamada aberta para submissão de trabalhos até o dia 15 de agosto de 2025 (23h59 UTC-5). O evento se propõe a ser um espaço de diálogo entre Academia, Estado e Sociedade Civil, promovendo a ciência como direito e bem comum, com base em princípios de inclusão, abertura, participação e responsabilidade.

Acesso o site do evento

Objetivos do congresso

O evento busca:

  • Promover trocas de experiências ibero-americanas;
  • Identificar barreiras à implementação da ciência aberta;
  • Compartilhar boas práticas;
  • Fomentar o diálogo entre diferentes atores sociais.

Eixos temáticos

  • Inteligência artificial e ciência aberta
  • Revistas predatórias, APC e más práticas editoriais
  • Ciência cidadã e participativa
  • Políticas públicas e sustentabilidade da ciência aberta
  • Infraestruturas abertas
  • Monitoramento e avaliação de impactos
  • Habilidades e divulgação científica

Datas importantes

Submissão de trabalhos:

  • Envio de resumos: até 15/08/2025
  • Notificação de aceite: até 15/09/2025
  • Envio de trabalhos completos: 01/09 a 31/10/2025

Inscrições: 

  • Público em geral: a partir de 15 de setembro de 2025
  • Prazo final para inscrição: 21 de novembro de 2025

Congresso:

  1. 25 a 27/11/2025 (formato híbrido)

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Grupo de Trabalho Acesso Aberto da CAPES publica relatório de trabalho sobre acesso aberto

CAPES acaba de publicar o Relatório de Atividades Grupo de Trabalho Acesso Aberto, criado em 2023 para, por exemplo, realizar estudos e propor critérios sobre financiamento de taxas de publicação de artigo em revista nacionais e internacionais.

O documento está disponível no Portal de Periódicos e pode ser acessado pelo link:  https://www.periodicos.capes.gov.br/images/documents/Relatorio-ACESSO-ABERTO_VFINAL.pdf

Os integrantes do grupo de trabalho definiram a atuação do Programa de Apoio à Disseminação de Informação Científica e Tecnológica (Padict), que enfocou o financiamento de publicação de artigos em acesso aberto junto às editoras contratadas pelo Portal de Periódicos. O objetivo é garantir equidade regional, social e de gênero entre os atendidos por essa iniciativa.

O relatório também traz os resultados das discussões sobre infraestrutura adequada para que os pesquisadores brasileiros possam publicar artigos em revistas reconhecidas globalmente, sem custos adicionais, para aumentar a visibilidade e o impacto dos seus trabalhos.

O grupo de trabalho buscou alternativas e soluções para contribuir com o aumento da visibilidade da produção científica brasileira, associada a um modelo sustentável no pagamento de taxas de publicação.

As discussões realizadas indicam que, no momento, a celebração de acordos transformativos, que preveem publicações ilimitadas, é o caminho mais adequado.

O GT realizou uma análise do contexto e dos desafios, como a mercantilização do Acesso Aberto por parte de editores, que impõe um alto custo de APCs (Article Processing Charges); a apropriação indevida dos conceitos de Acesso Aberto e a insustentabilidade do modelo financeiro baseado exclusivamente em APCs.

Diante desse cenário, propõe-se a assinatura de acordos que contemplem o pagamento de APCs ilimitadas e o fortalecimento das revistas nacionais.

A proposta é convergir esforços na busca da promoção e democratização do conhecimento e o fortalecimento da produção acadêmica nacional com vistas a aumentar a visibilidade da ciência brasileira e consolidar sua presença no cenário global.

Por se tratar de temática atual e dinâmica, sugere-se a continuidade das discussões.

De caráter consultivo, o Grupo de Trabalho Acesso Aberto foi instituído pela Portaria nº 276/2023, de 5 de dezembro de 2023, como uma das ações do Padict, regulamentado pela Portaria nº 275/2023, na mesma data. O Padict pretende, por exemplo, fomentar os programas de pós-graduação, a formação de professores da educação básica e a disseminação da produção científica.

Os integrantes propõem a convergência de esforços para promoção e democratização do conhecimento e o fortalecimento da produção acadêmica nacional com vistas a aumentar a visibilidade da ciência brasileira e consolidar a presença no cenário global.

Além da CAPES, participam o Ministério da Educação (MEC); o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI); a Associação Nacional dos Pós-Graduandos (ANPG); o Conselho Nacional das Fundações Estaduais de Amparo à Pesquisa (Confap); a Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC); o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq); o Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia (IBICT); o Scientific Electronic Library Online (SciELO); o Fórum de Pró-Reitores de Pós-Graduação e Pesquisa (Foprop); a Associação Brasileira dos Editores Científicos (Abec); a Academia Brasileira de Ciências (ABC); a Financiadora de Estudos e Projetos (Finep); e a Comissão Brasileira de Bibliotecas Universitárias.

Fonte: CAPES. GT Acesso Aberto. Relatório de Atividades Grupo de Trabalho Acesso Aberto. Brasília, DF, 2024. Disponível em:  https://www.periodicos.capes.gov.br/images/documents/Relatorio-ACESSO-ABERTO_VFINAL.pdf Acesso em:  16 julho 2025.

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Universidade do Minho tem uma nova Política de Ciência Aberta

A Universidade do Minho (Portugal) estabeleceu uma nova Política de Ciência Aberta, formalizada pelo Despacho RT-91/2025. Passa assim a dispor de um conjunto de orientações – atualizadas e alinhadas com entidades de referência na área – que valorizam a abertura, transparência, reprodutibilidade, credibilidade, eficiência e qualidade da investigação, visando o reforço do sistema científico e um seu maior reconhecimento pelos cidadãos.

A UMinho é, aliás, pioneira no acesso aberto ao conhecimento e ciência aberta, com o primeiro repositório institucional na lusofonia em 2003 (RepositóriUM), uma política de autoarquivo da produção científica desde 2005 e um repositório de dados de investigação desde 2020 (DataRepositóriUM). Além disso, é cocoordenadora do projeto Repositórios Científicos de Acesso Aberto de Portugal (RCAAP) e do Repositório Científico da CPLP, cofundadora das organizações internacionais COAROpenAIRE AMKE e CoARA e subscritora das declarações DORA e de Barcelona.

A sua ação está enquadrada com as orientações sobre ciência aberta da UNESCO (2021), da União Europeia (20162020202220232024), da Associação Europeia de Universidades, da Aliança Europeia Arqus (2022) e com a recente política de acesso aberto da Fundação para a Ciência e a Tecnologia (2025). A política de ciência aberta da UMinho é um compromisso do seu Plano de Ação 2021/2025 e interliga-se com o Código de Conduta Ética, a Política de Privacidade, a Política de Proteção de Dados e o Regulamento de Propriedade Intelectual da Universidade.

O documento agora publicado incide em todo o espectro da ciência aberta, incluindo o acesso aberto a dados de investigação, recursos educativos abertos, ciência cidadã, código aberto e práticas de inovação aberta. Por outro lado, reforça o alinhamento com financiadores públicos nacionais e internacionais, o depósito obrigatório de publicações no RepositóriUM, com os livros e capítulos de livros como categorias relevantes (admitindo períodos de embargo), o uso de licenças abertas normalizadas e, ainda, orientações claras de gestão, depósito e abertura de dados científicos segundo os princípios FAIR (Findable, Accessible, Interoperable, Reusable). Adicionalmente, valoriza princípios de avaliação da investigação e dos cientistas que contrariem o uso inadequado de métricas e que promovam a diversidade de práticas de ciência aberta.

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OpenAlex disponível para integrar com a versão 9.0 do DSpace

O ecossistema da Ciência Aberta acaba de dar um passo significativo com a integração entre o OpenAlex e o DSpace.

Em parceria com a Universidade de Cambridge, a 4Science reforçou a interoperabilidade no DSpace para proporcionar repositórios mais ricos e com melhor qualidade de dados. Tem como objetivo enriquecer a informação académica e simplificar os fluxos de trabalho na investigação científica.

Esta é uma reprodução da matéria publicada no Blog da RCAAP.

O que é o OpenAlex?

É uma plataforma inovadora que oferece acesso gratuito a milhares de publicações científicas, investigadores, instituições e fontes académicas. A integração com o DSpace simplifica e acelera a introdução de publicações e outras entidades, garantindo um repositório sempre atualizado e abrangente. Através das funcionalidades existentes de importação em tempo real, os utilizadores poderão importar itens completos com metadados, tanto a partir do MyDSpace como através das sugestões dedicadas a administradores e utilizadores da plataforma.

A importação de fontes externas, acessível através do MyDSpace, permite a pesquisa direta na base de dados do OpenAlex e integra os resultados selecionados no DSpace, preenchendo automaticamente o formulário de submissão com os metadados importados. As entidades suportadas por esta integração incluem Publicações, Revistas, Pessoas e Unidades Organizacionais, proporcionando uma gestão de conteúdos mais avançada e abrangente.

Graças ao processo de sugestões do carregador de importação, a página administrativa dedicada à reivindicação de publicações irá sugerir conteúdos a adicionar ao repositório. Além disso, os utilizadores receberão notificações ao iniciar sessão com sugestões de publicações, revistas e unidades organizacionais que podem ser integradas no DSpace, contribuindo para o enriquecimento dos metadados.

A partir da versão 9.0 do DSpace, lançada recentemente, os utilizadores passam a poder importar metadados diretamente do OpenAlex. Esta funcionalidade também está disponível para a versão 8.1 através de um patch específico.

A integração permite:

  • Importação automática de metadados: facilitando o registo de publicações com dados completos e atualizados.
  • Sugestões inteligentes de conteúdos: com base em perfis institucionais e áreas de investigação.
  • Melhoria da qualidade dos registos: através de ferramentas de validação e enriquecimento de dados.
  • Promoção da Ciência Aberta: ao facilitar o acesso e a partilha de conhecimento científico de forma transparente e colaborativa.

A 4Science sublinha que esta colaboração com o OpenAlex representa um avanço estratégico para instituições académicas e centros de investigação que pretendem modernizar os seus repositórios e alinhar-se com as melhores práticas internacionais de acesso aberto.

Saiba como utilizar visualizando um vídeo com o passo a passo da interface do utilizador do OpenAlex:

Post escrito com base na notícia original disponível aqui.

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2º Congresso Ibero-Americano de Ciência Aberta: chamada de trabalhos

O encontro de ciência aberta mais importante da região

Saiba mais: https://cienciaabierta.info/

A Fundação Openlab Ecuador, a Rede Livre de Pesquisa em Conhecimento, Software e Hardware,  a Universidade UTE e o escritório da UNESCO no Equador anunciam a abertura de convocatórias para o 2º Congresso Ibero-Americano de Ciência Aberta, que será realizado  de 25 a 27 de novembro de 2025 em modo híbrido de Quito, Equador.

Este congresso busca gerar um espaço de diálogo ibero-americano entre a academia, o Estado e a Sociedade Civil sobre o direito à ciência, promovendo transformações em direção a uma ciência mais inclusiva, aberta, participativa e responsável. O evento segue o sucesso do primeiro congresso em 2022, que contou com 357 participantes, 43 apresentações e 9 eventos satélites regionais.

Modalidade híbrida e participação livre

As apresentações dos trabalhos serão realizadas online e os discursos presenciais em Quito, com streaming para garantir a acessibilidade global. A participação é totalmente gratuita, incluindo a inscrição para trabalhos e a frequência às atividades.

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